Sunday, December 30, 2012

Mochilão em 20 posts. [Mochilão #20]

Salvador - Bahia
Pois é. Cá estou em São Paulo novamente, minha cidade natal. Em novembro do ano passado, trabalhando na coordenação pedagógica do CNA Penha, tive essa ideia de pedir as contas e viajar por um tempo. Primeiro pensei em fazer uma viagem mais longa, tentar trabalhar em outros países. Não era uma vontade de fazer exclusivamente isso, era mais uma vontade de parar de trabalhar por um tempo, diminuir o ritmo. Poderia ser pra qualquer lugar, e considerei vários, desde viajar pela América do Sul até um intercâmbio de idioma em outro país do outro lado do mar. Parei de trabalhar em agosto e já tinha em planos que começaria a viagem em setembro. Já faz tempo que não tenho a necessidade de ser assertivo em relação às coisas e eu deixo elas fluírem e sigo minha intuição. No final das contas, eu, e não mais ninguém, é que ficarei com as consequências de minhas decisões. E seguindo esse movimento que prorroguei minha viagem pra outubro, começando por Floripa. Fiquei 15 dias na casa do Rodrigo e de lá seguiria para o Paraguai. A burocracia dos documentos me impediu tal intento e acabei voltando pra São Paulo. Não queria ficar longe da Juliana e os 15 dias em Floripa deixou isso bem claro pra mim. Resolvi mudar radicalmente e fazer um mochilão de 1 mês pelo Brasil. Assim, de ônibus mesmo, ficando no máximo 3 dias em cada cidade, pegando carona quando possível e gastando o mínimo. Comecei pelo sul do Goiás e fui subindo, atravessando o Tocantins inteiro e entrando no Maranhão por Imperatriz. Na transversal fui pela Transamazônica até Picos, no Piauí e segui pra Juazeiro do Norte, no Ceará. Fiquei uns tempos na região Metropolitana do Cariri, sul do Ceará e atravessei Pernambuco, entrando na Bahia por Juazeiro. Desci rumo a Feira de Santana mas resolvi mudar o trajeto e conhecer a Chapada Diamantina, antes de seguir pra Salvador. Cidades com praias não estavam no meu plano, mas resolvi adiantar minha volta pegando uma passagem de avião promocional de Salvador pra São Paulo. Viajar mais, trabalhar menos, celebrar a vida e tudo o que ela oferece em cada momento. E como sempre, o que é realizado é muito mais gostoso do que aquilo que só fica nos planos pro futuro.      

Monday, December 24, 2012

Sobe no ônibus, desce do ônibus e pergunta como chegar lá. [Mochilão #19]

Seabra - Bahia
Uma postagem rápida pra contar minha história pra chegar aqui em Lençóis, na Chapada Diamantina. Postagem rápida, viagem longa. Bom, estava indo pra Feira de Santana e resolvi descer em Capim Grosso, algumas horas antes. De lá pra cá tudo mudou. Se fosse pra Feira de Santana, continuaria a viagem frenética de ônibus até São Paulo. Mas descendo em Capim Grosso, decidi vir pra Chapada Diamantina, passar uns dias dando férias das férias e pegar um avião de Salvador pra São Paulo. Viagem promocional, preço bom, que a Juliana arranjou pra mim. Okay, vamos pra história. De Capim Grosso peguei um ônibus pra Morro do Chapéu. Busão que era pra sair às 16h e saiu às 17:30. 4 horas num trajeto inacreditável que você faria em menos de 1 hora de carro. Fomos parando em todas as cidades no caminho, coisa que é bem comum nessas bandas. Chegando lá, pousada arrumada, bora tomar uma breja. Somente um bar aberto. Logo vi que a cidade toda estava fugindo de lá pra passar o Natal em outras paragens. No outro dia tive que sair ao meio dia porque o dono estava indo passar as festas com família num sítio. Cara bem bacana que falou pra eu tentar chegar em Lençóis o mais rápido possível, caso contrário passaria o Natal na estrada ou ouvindo Axé Bahia no último volume em alguma cidade perdida. Dica acatada, peguei um busão correndo pra Irecê saindo às 14h, isso do dia 23. Aquela mesma história parando em todas as cidades até Seabra, chegando quase às 22h. Pousadinha simples, com janta e mosqueteira no quarto. Isso vale muito mais que hotel de luxo sem mosqueteira. Os pernilongos chegam matando. Pernoite e janta por apenas 25 pilas e do lado da rodoviária. Já no dia 24, hoje, pego ônibus de Seabra pra Lençóis às 8h da matina e chego nesse paraíso às 10h. Por indicações, enfim faço check-in num HI Hostel bem bacana. Esse lugar é lindo, e se nunca veio pra cá, coloque na sua lista. Com um carrinho bacana essa história toda levaria de Capim Grosso pra Lençóis, umas 5 horas. Seríssimo. Por aqui ficarei por uns dias e sigo pra Salvador. Viagem nota 10! Considere fazer isso por uns tempos em algumas férias num futuro de sua vida. 

Saturday, December 22, 2012

Juá e o Velho Chico. [Mochilão #18]

Estátua Nego D'água - Juazeiro.
Existem várias Juazeiros pelo Nordeste Brasileiro. As mais conhecidas são Juazeiro do Norte, no Ceará, terra do Padre Cícero, e a Juazeiro, que fica na Bahia. E é nessa segunda que estive uns dias atrás nessa minha descida pra Sampa. Depois que saí de Missão Velha (CE), atravessei Pernambuco passando por Salgueiro, Cabrobó e Petrolina. Pra quem vem pela BR-428, Petrolina é a última cidade. Atravessando a Ponte Presidente Dutra, você já se encontra na Bahia, na cidade de Juazeiro. É assim, uma de frente pra outra, separadas pelo Rio São Francisco, ou Velho Chico, como também é chamado. Juazeiro é uma árvore típica do Nordeste Brasileiro, reputada por diversas propriedades medicinais. Seu extrato, o juá, é empregado na indústria farmacêutica em produtos cosméticos, dentre eles xampus e cremes, bem como em cremes dentais. Em 2006 visitei o Delta do São Francisco, que fica a 140 km de Maceió, e tive a oportunidade de nadar em suas águas. Uma pena constar que em Juazeiro, pelo menos na orla do centro, isso não seria possível. Bonito pra se ver, mas fedido como o Rio Tietê, na capital, quando bate aquele calor. Foi uma visita rápida, estou evitando cidades grandes, mas a brisa do rio deu uma recarga na bateria. O calor no sertão é de matar mesmo. Pena que em Capim Grosso, já descendo mais ainda,  a bateria deu descarregada. Uma noite em claro com pernilongos assassinos e o barulho infernal de um bar ao lado da pousada, com música ao vivo, microfonias, péssimos cantores, uma caminhonete com som ligado e um grupo de pessoas que só sabiam conversar gritando, até o sol raiar. Literalmente. Há a beleza e a feiura das coisas. Espero encontrar paragens mais bonitas pelo caminho de volta pra casa.  

Thursday, December 20, 2012

Challenge Accepted. [Mochilão #17]

Missão Velha - Ceará
A Carol me desafiou a visitar a cidade de Quirinópolis, em Goiás. Tudo por causa de uma brincadeira, já que Quirino é meu sobrenome. Logo vieram outros desafios no curso da viagem. A Dani escolheu a cidade de Missão Velha, no Ceará, e me deu a missão de visitar o GeoPark Araripe. Teria que encontrar registros de algum pterossauro. O GeoPark Araripe possui 9 geossítios nessa região que é chamada de Chapada do Araripe, localizada no sul do estado, na Região Metropolitana do Cariri. O único problema é que o geossítio Parque dos Pterossauros fica na cidade de Santana do Cariri. Aqui em Missão Velha eu visitei 2 geossítios: Cachoeira de Missão Velha e Floresta Petrificada do Cariri. O primeiro, bem mais interessante pra quem não é especialista nesses assuntos de Paleontologia, tem uma trilha de 1,9 km pela caatinga e é palco de várias lendas e estórias de encantamentos e mortes. A trilha, bem sinalizada, termina na Casa de Pedra, construída por colonizadores vindos da Bahia e Alagoas, no século XVII. Tem também uma cachoeira que os índios Kariri acreditavam ser um portal para a Terra Encantada do Cariri. Além disso, nesse geossítio estão preservados icnofósseis, vestígios de invertebrados aquáticos, com cerca de 420 milhões de anos. No dia seguinte fiz o caminho até o segundo geossítio, a Floresta Petrificada do Cariri. Mais de 1 hora de caminhada pela estrada sob um sol de lascar e quando chego lá o local está fechado. Mas isso não foi impedimento, se é que me entende. Visitei os dois geossítios sem guia e não encontrei nenhuma pessoa no caminho. Gostei das placas de sinalização, que me possibilitaram entender o que estava vendo. Mas tamanhas preciosidades não poderiam estar largadas assim, sem guias ou, pelo menos, pessoas cuidando dos locais.

Monday, December 17, 2012

Minha peregrinação para a terra do Padre Cícero. [Mochilão #16]

Juazeiro do Norte - Ceará
A bem da verdade é que saí que nem louco pra esse mochilão. Não pesquisei nada e decidi meu destino nos acréscimos do segundo tempo. Como já disse aqui, fosse Nepal ou São José do Rio Pardo, tava valendo. No decorrer da viagem, depois que senti o ritmo das coisas, comecei a traçar alguns pontos. Se não fizesse isso, ia acabar em alguma tribo indígena no Amazonas, ou no Monte Roraíma, enfim. Indo pro norte do país, estabeleci que chegaria até Imperatriz, no Maranhão, e depois começaria a ir na transversal. Outro ponto estabelecido foi Juazeiro do Norte no Ceará pra depois começar a descida de volta pra Sampa. Também estabeleci que não visitaria capitais e nem cidades com mar. Essas capitais posso conhecer depois e ainda pretendo fazer uma viagem indo do litoral gaúcho até a Ilha de Marajó, no Pará. Depois de ter lido um livro chamado Cabras, fiquei morrendo de vontade de conhecer o Sertão Nordestino. Juazeiro do Norte é a capital do Sertão. Os relatos do livro me deixaram bem curioso sobre essa cidade e, apesar de não ter nenhuma religião, eu sou um observador das coisas e queria estar lá pra ver. Mas minha peregrinação começou bem antes de subir o Caminho do Horto sob o sol do meio dia (sim, fui bem burro e ingênuo) que me custou dois litros de água na subida de um pouco mais de 1 hora. Minha peregrinação começou quando depois de enfrentar a Sin City do Piauí, a cidade de Floriano, eu tive que esperar por longas horas o ônibus que me levaria pra Juazeiro do Norte, saindo da cidade de Picos. Eu desmaiei no ônibus de cansaço e minha fome estava em níveis preocupantes. Chegando na terra do Padre Cícero, eu quase dormi num dos bancos da rodoviária. Mas juntei forças e resolvi procurar algum lugar pra ficar. Encontrei um taxista bem bacana que me explicou várias coisas sobre essa terra e me levou para o hotel mais barato do centro, que segundo ele seria o melhor ponto de partida pra conhecer as coisas. Além de ter me levado, ele convenceu o recepcionista a fazer diárias por 25 pilas, ao invés de 35. Esse cara foi massa, pena que não o encontrei outras vezes por lá. Juazeiro do Norte tem um lance inexplicável no ar. O povo ama a cidade e Padre Cícero é o cara pra eles. Tudo gira em torno dessa figura e, farsa ou não, cativou todo um povo. Até Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, era devoto desse cabra e chegaram a se encontrar uma vez. Padim Ciço, como é mais frequentemente chamado pelos devotos, morreu em 20 de julho de 1934.

Sunday, December 16, 2012

Cidade de Floriano: Quem tem coragem? [Mochilão #15]

Rodoviária de Floriano - Piauí
"Cidade de Floriano, quem tem coragem?" foi como o motorista figuraça do ônibus anunciou a primeira cidade do Piauí pra quem vem pela BR-230 saindo do Maranhão. Logo de cara sou abordado por dezenas de moto-taxis me oferendo uma carona, outros me oferecendo passagens com descontos para diversos lugares e depois de me desvencilhar de tais sujeitos, percebo que desembarquei na Sin City do Piauí. Você, Florianense, não fique chateado. Minhas impressões se referem aos arredores da rodoviária. Mas não diga que não é assim. É assim e eu vi com os meus próprios olhos. Floriano tem uma atmosfera bombástica. Além do som super alto vindo das barracas que ficam na calçada, bem de frente pra rodoviária, senti toda espécia de cheiros ao mesmo tempo. Se alguém riscasse um fósforo ali, era explosão na certa. Cada barraca tocando seu som, disputando em volume com cada carro estacionado. Eu nem sei o que estava tocando. Coloquei minha mochila no chão, ao lado de uma mesa, e pedi uma cerveja. Era aquela gritaria generalizada e não dava pra sacar se era conversa alta por conta do som alto, ou se era briga. Foi uma breja só e me mandei dali. Era caminhão atrás de caminhão passando na avenida e milhares - MILHARES - de motos. Do outro lado da rodoviária uma rua cheia de dormitórios. Quartos pequenos com banheiro coletivo, sem café da manhã por 25 pilas. Eu precisava muito me retirar e descansar. Meu ônibus pra Juazeiro do Norte passaria somente em 5 horas. Depois de um breve descanso, sem deixar de ouvir gemidos de gente transando e brigando nos quartos vizinhos, procurei um lugar pra tomar café da manhã. A procura foi em vão e preferi jejuar até alguma parada que o ônibus fizesse na estrada. Mas, para minha surpresa, o ônibus ia atrasar 3 horas. Não, não poderia mais ficar ali. Como não tinha comprado minha passagem ainda, arrumei um táxi que me levou até a cidade de Picos (2 horas de viagem) por somente 40 reais. Mas porque fui dividindo com duas senhoras que foram atrás. Mas mesmo assim, né? Você de São Paulo sabe que isso se gasta facilmente do Tatuapé até o Cangaíba. Em Picos, outra supresa. A rodoviária tinha almoço bom, lan house e ar-condicionado. Fiquei de careta com a diferença entre as duas cidades de quase mesmo tamanho. De lá segui minha peregrinação pra Juazeiro do Norte. Mas não antes de enfrentar mais horas de espera e sob um calor de 42 graus que estava me derretendo na sombra. Isso tudo pra conhecer a cidade de Padre Cícero, que te conto logo mais.    

Friday, December 14, 2012

Pela Rodovia Transamazônica. [Mochilão #14]

BR-230 - Chapada das Mesas
A Rodovia Transamazônica (BR-230), é a terceira maior rodovia do país. Foi projetada durante a ditadura militar e é considerada uma obra faraônica devido a suas proporções gigantescas. Tem um trecho no Pará e no Amazonas que não é pavimentada. Na época da construção, os trabalhadores ficavam completamente isolados e sem comunicação por meses. Por não ser pavimentada nessa região, o trânsito é impraticável na época de chuvas, entre outubro e março. É bem nessa época que cá estou. Mas comecei minha aventura por ela em trechos bem melhores. Como alguns dizem: um tapete! De Imperatriz descendo pra Carolina, num trecho lindo, cortando a Chapada das Mesas. Ainda bem que fiz esse trecho durante o dia e pude ver a exuberância da Chapada mesmo antes de fazer meus passeios por ela. Carolina é uma cidade bem calma e cheia de bikes. Aliás, bike é o que não falta nessas cidades por onde tenho passado. É uma grande pena que na medida que o pessoal vai conseguindo dinheiro, vão trocando as bikes por motos. A quantidade de motos que tenho visto, mesmo em cidades planas de 10 mil habitantes, é um absurdo. A poluição sonora é horrível. Mas Carolina e Riachão, ainda no Maranhão e na Chapadas das Mesas, conservam aquela calma e silêncio de cidade pequena. Ambas com cerca de 30 mil habitantes, no máximo. Carolina é banhada pelo Rio Tocantins e é linda! De Carolina até Riachão leva mais ou menos 40 minutos. Consegui uma carona na estrada e consegui uma pousada bem na beira da Transamazônica. De lá fiz passeios por cachoeiras lindas da região, também de carona. É bem fácil pegar uma carona por essas bandas. Fui de moto num trecho de 30km, só na terra. Que minha mãe não saiba disso. Ainda pela BR-230, saí do estado do Maranhão e cruzei pro Piauí, parando na cidade de Floriano. Foi uma viagem longa de ônibus, parando em todas as cidadezinhas do caminho. 8 horas num trecho de quase 300km, mas era a única opção. O motorista era uma figura. Brincava com todos, cumprimentava todas as pessoas nos guichês das rodoviárias e sempre estava rindo e fazendo piadas. Em cada cidade que parávamos, ela anunciava com aquela voz de narrador de rodeio, fazendo algum comentário da cidade. E foi em Floriano, depois do anúncio "cidade de Floriano! Quem tem coragem?" que desembarquei. Só precisei de poucos minutos pra entender o anúncio. Essa te conto depois. 

Wednesday, December 12, 2012

25 mil quilômetros pelo interior do Brasil. [Mochilão #13]

Carolina - Chapada das Mesas - MA
Não, não vou fazer 25 mil quilômetros pelo interior do Brasil. Da última vez que calculei, estava por volta de 3 mil. Essa é a distância que a Coluna Prestes percorreu pelo país em dois anos e meio. Dizem que em sua marcha pelo Brasil, os integrantes denunciavam a miséria da população e a exploração das camadas mais pobres pelos líderes políticos. Isso aconteceu entre 1925 e 27. Mas você sabe, difícil confiar num movimento político-militar. Em 1998 o Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, abriu um conjunto de 28 mil cartas, manuscritos e fotos de Juarez Távora , que formava com Prestes e Miguel Costa a cúpula da Coluna. Esses documentos revelam que não eram recebidos com festas por onde passavam, como diziam. Há relatos de estupro, saques e assassinatos. Mas o que a Coluna Prestes tem a ver com a minha viagem? Tá vendo esse casarão da foto? Pois bem, fica ao lado da pousada onde fiquei em Carolina, no Maranhão. E foi nesse casarão que a Coluna ficou hospedada e recebida pela população com uma missa e uma festa. Marcos, um amigo que fiz nessas andanças, me contou essa história e muitas outras. É bem interessante o trajeto feito pela Coluna. Quem sabe um dia não role um Mochilão Coluna Prestes? Se tiver alguém aí, eu topo. Carolina é uma cidade bem tranquila e ponto de apoio pro Parque Nacional Chapada das Mesas e todas as outras belezas naturais da região. Arrisco dizer que foi o ponto máximo da viagem, até agora. Mas ainda é cedo. Enquanto isso vou ouvir muitas histórias por aí.

Tuesday, December 11, 2012

O Portal da Amazônia ou simplesmente, Imperosa. [Mochilão #12]

Conheci Julio em 2009. Ele me contou várias histórias de Imperatriz, a segunda cidade mais populosa do Maranhão, com 247 mil habitantes. Me contou histórias do Rio Tocantins, dos botecos, dos seus amigos que deixou lá pra ir morar em São Paulo. Eu sabia que em algum momento eu passaria por lá. Essas histórias me instigam. Tive uma aluna que já tinha seus quase 70 anos e o sonho dela era melhorar o inglês para poder fazer viagens fora do país. Do Brasil, ela conhecia quase tudo e me passou esse gosto por viagens desse tipo que estou fazendo. Não sei se ela lembra disso, mas como gostaria de reecontrá-la e dizer que ela vai estar sempre na minha memória. Quando ela descreveu a sensação de ter pegado carona uma vez rumo ao Chile e avistou os Andes lá no horizonte, ela quase chorou. Eu tive a oportunidade de fazer isso, e é realmente incrível. Imperatriz é caótica, trânsito maluco, milhares de bikes, motos, carros e carroças, tudo junto e misturado. Coisa de louco mesmo. Eu fiquei um pouco sufocado, principalmente na chegada. Me senti meio desamparado e desesperado pra encontrar um lugar e poder descansar. Já no outro dia, pude viver um pouco mais daquela Babilônia. Essa viagem tem me colocado em xeque várias vezes. 
Julio, obrigado. Essa postagem é pra você, meu amigo!

Monday, December 10, 2012

Algumas coisas parecem me perseguir [Mochilão #11]

Ponte sobre o Rio Tocantins
Antes que você pense que é síndrome de perseguição, deixa eu explicar. É que resolvi fazer um mochilão por alguns lugares do Brasil depois de uma tentativa frustrada de entrar no Paraguai. Acabou que esse negócio de "deixe a vida te levar" provou ser uma boa filosofia de vida. Não praguejei contra os deuses ou me entreguei a qualquer tipo de lamúria. Minha vontade era viajar e me desconectar de minha rotina por uma tempo, fosse isso no Nepal ou em São José do Rio Pardo. Viajar pela América do Sul era uma opção óbvia: bonito e barato. Mas resolvi pegar outros rumos e desde então algumas coisas me perseguem. A primeira de todas é o Cerrado. Não importa pra onde vá, o Cerrado está ali comigo. Ele se disfarça, mas tenho visto ele várias vezes na minha cola. Em alguns momentos percebi uma certa tristeza em seu olhar, muitos pastos para os bois, a tal da pecuária, e muita plantação de soja, a tal da agricultura. Como você deve saber, uma coisa está conectada à outra, afinal, os bois também comem, e boa parte dessa soja é pra eles. Mas em muitas ocasiões o vi feliz, e sua fisionomia mudou a minha. O Cerrado é um dos 6 biomas do Brasil. 97% de Goiás e 91% do Tocantins são ocupados pelo Cerrado. E cruzei esses dois Estados de Norte a Sul. Mesmo quando cheguei no norte do Tocantins e entrei no Maranhão por Imperatriz - que também é chamada de Portal da Amazônia - ali estava o Cerrado me perseguindo. 
A segunda coisa que tem me perseguido é o tal do Rio Tocantins. Pouco tinha ouvido falar dele, ou não tinha dado muita atenção, mas o tal rio pegou carona comigo nessa viagem. O Rio Tocantins nasce no estado de Goiás, mas nessa parte ele estava me acompanhando de longe e eu não o percebi. Fui vê-lo pela primeira vez em Palmas, no Tocantins, onde pude desfrutar de seu frescor molhando meus pés em suas águas, na Praia da Graciosa. Na segunda vez que o vi, foi uma surpresa: passei por cima dele pra atravessar do Tocantins para o Maranhão, caindo na cidade de Estreito. Dali pra frente ele foi do meu lado até a cidade de Imperatriz, no Maranhão. Olha ele comigo na foto dessa postagem. Até água de coco tomamos juntos. E eis que agora, um pouco mais ao sul, no Parque Nacional da Chapada das Mesas, quem eu encontro? Pois bem, deixa eu ir lá bater um papo com ele e perguntar sobre Bernardo Sayão, outro que anda me perseguindo nesse mochilão pelo Brasil.       

Sunday, December 09, 2012

Na estrada [Mochilão #10]

Rodoviária de Paraíso do Tocantins - TO
A Rodovia Transbrasiliana (BR-153), também chamada de Rodovia Belém-Brasília ou, se preferir, Rodovia Bernardo Sayão é quarta maior rodovia do país. Liga as cidades de Marabá no Pará e Aceguá no Rio Grande do Sul. Depois que passa por essa cidade, continua até Montevidéu no Uruguai com o nome de Ruta 8. Pois bem, podemos dizer que a história de Paraíso do Tocantins está intimamente ligada à construção dessa rodovia. São milhares de caminhões passando a todo momento da estrada e postos de gasolina onde os caminhoneiros param pra abastecer e pernoitar. Na pequena rodoviária, o movimento é frenético. É um que capotou o caminhão na estrada, perdeu toda a mercadoria e estava esperando o ônibus que o levaria de volta à Bahia. É outra que não pode embarcar porque estava sem documento e esperando a irmã que viria lá de longe pra ajudá-la. Um outro que estava esperando sentado em cima de suas várias sacolas. Outros na cantoria e na viola. E uma outra que não parava de reclamar com o menino do guichê da companhia de ônibus porque o tal estava horas atrasado. O ônibus estava vindo de Goiânia rumo a Fortaleza. O horário previsto era 21:30 e lá estava eu, também esperando, às 23:10. Estava exausto, tinha feito check-out do hotel ao meio-dia e desde então estava circulando pela pequena cidade. Tinha deixado minha mochila no guarda-volume da rodoviária e minhas roupas pra uma senhora lavar, secar e passar. De Paraíso do Tocantins até Imperatriz foram quase 13 horas de tanta parada que o ônibus fez. O mal humor é inevitável nas condições de fome e sono. E foi assim que cheguei em Imperatriz, o portal da Amazônia. Essa história compartilho depois. 

Friday, December 07, 2012

Sonho ou pesadelo [Mochilão #9]

Praça dos Girassóis - Palmas - TO
Eu lembro quando tinha 10 anos e a professora de Geografia disse que tinham acabado de criar um novo Estado. Isso foi em 1988, quando foi aprovado no Congresso Nacional a criação de Tocantins. Logo no ano seguinte veio a fundação da capital - Palmas - em 20 de maio de 1989. Desde muito tempo antes disso já havia movimentos separatistas na região. Mas isso você pode pesquisar mais aqui na internet se for do seu interesse. Há pouco morreu Oscar Niemeyer e não quero causar nenhuma espécie de revolta nos adoradores desse deus do concreto. Parece que certas coisas não podem ser questionáveis e o cara parece que conseguiu esse status. Assim como Niemeyer fez com Brasília, fizeram os arquitetos que projetaram Palmas. Sonho pra quem tem dinheiro e carro. Pesadelo pra quem se locomove com as pernas, como eu. Tudo longe, faixas de pedestres no lugar onde é até um insulto ter que andar pra atravessar a rua. Ônibus caro, cheio, e meio que saindo do nada e indo pra lugar nenhum. A cidade foi projetada pra crescer. E muito! O que impressiona em Palmas é a imensidão de seu céu. Mano! A cidade é praticamente toda plana e ainda possui poucos prédios, então sobra céu em cima da cabeça. O rio Tocantins pode ser visto de vários pontos da cidade, passando lá embaixo. Poderoso! Agora, se você é do tipo que não gosta de calor, não cogite sequer pensar em um dia vir pra cá. Palmas parece um oásis no meio do deserto. Ali, no meio do cerrado, calor de 40 graus fácil. Isso porque cheguei na época "fresca", a época da chuva. Dizem que isso aqui em agosto e setembro é o inferno na Terra. E eu camelei, viu! Bati perna nessa cidade. Bebi litros de água no caminho. Nunca vou esquecer, foi como estivesse andando numa fornalha. 

Viajar é preciso [Mochilão #8]

Rodoviária de Cavalcante - GO
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. (Fernando Pessoa).

Havia tempos que estava querendo fazer uma road trip dessas. Não imaginava que seria pelos lugares que tenho passado. A boniteza das pessoas, mesmo na contramão da beleza padronizada, as paisagens que passam pelas janelas de ônibus, o contato com a natureza, as cidades. O jeito que o homem se organiza em sociedade e suas várias possibilidades de sobrevivência. Tudo tem sido vivido com muita intensidade, com olhos bem abertos e cheios de curiosidade. Estou me sentindo de roupas novas, mesmo com a mesma camiseta há dias... mas deixo isso pra outras prosas, aqui e acolá.  

Thursday, December 06, 2012

Senhores pais ou responsáveis [Mochilão #7]

Cavalcante - GO
"Senhores pais ou responsáveis, venha exercer sua cidadania. Compareça à escola municipal pra eleger a nova diretora. Não deixe de votar. Amanhã das 9h às 15h na escola municipal".
Daí você já imagina a vibe da cidade. Cavalcante está praticamente num vale no norte da Chapada dos Veadeiros. Sinal de celular pra quê? Com quase 10 mil habitantes, é um sossego que só. Muita coisa tem sido novidade nessa minha viagem. Não imaginava que em plena época na qual vivemos, existissem quilombos ainda. Pois é, bem próximo de Cavalcante existe uma parte da comunidade Kalunga, descendentes de escravos que fugiram na época da escravidão. Uma grande pena ter passado por essas bandas numa época de chuva forte e estradas péssimas de terra e não poder fazer uma visita. Ouvi muitas histórias do povo local  sobre esse quilombo. Se gosta dessas paradas, procure na internet. É muito interessante e vale uma volta só pra fazer isso. 

Tuesday, December 04, 2012

O paralelo 14 [Mochilão #6]

Alto Paraíso de Goiás - GO
Você deve lembrar das aulas de Geografia quando o professor falava de  paralelos e meridianos. Eu tenho uma vaga lembrança. O pouco que aprendi mesmo foi no curso da vida. As linhas traçadas de norte a sul unindo os polos são os meridianos e as linhas traçadas de leste a oeste paralelas ao equador são os paralelos. Nessa andança passei por Alto Paraíso de Goiás, um dos 5 municípios da região conhecida como Chapada dos Veadeiros. Se você já foi pra São Tomé das Letras em Minas Gerais, vai entender um pouco da vibe dessa cidade. Eu não curto muito esse lance de hippie. Digo do meu ponto de observador. Lógico que aquilo que conheço me limita. Mas então, é assim com todo mundo. Sendo assim, tirando essa coisa toda de que o fim do mundo vai acabar nesse mês de Dezembro no qual estamos, essa mistura de hippie com a cultura local resultou em algo interessante, a tal da vibe da cidade. O que mais me impressionou foi a natureza em volta. Sabe quando você encosta a cabeça no travesseiro e se dá conta que vai dormir no meio da Chapada dos Veadeiros? Me instiga. A cidade está a 1600 metros acima do nível do mar. A vegetação ao redor é bem variada, mas estamos no Cerrado. 
Mas e os tais dos paralelos e meridianos? O que eles tem a ver com esse post? O paralelo 14 que atravessa Machu Picchu, no Peru, também atravessa Alto Paraíso. Aí você imagina o quanto de grupos místicos essa cidade reúne. Além disso, acredita-se que no subsolo da região exista uma enorme placa geológica de milhões de toneladas de cristal de quartzo. Aí você junta essa coisa de místico e cristal é já sabe. Bom, que aqui já foi área explorada pelo garimpo em procura de cristais - e eles existem mesmo de monte por aqui - já é sabido. Mas daí achar que seres iluminados de outros planetas pousariam aqui por causa dessa emanação de energia positiva já é um pouco viagem. Prefiro a minha viagem por essas estradas, sem rumo. 

Monday, December 03, 2012

Chapada dos Veadeiros [Mochilão #5]

Parque Nacional Chapada dos Veadeiros
11º dia da minha viagem. Quando estava em Goiânia, cheguei a pensar em ir direto pra Palmas, em Tocantins. Mas tinha alguns desafios pra cumprir e eles me trouxeram pra região da Chapada dos Veadeiros, ainda em Goiás. Essa região é composta de 5 municípios: São João d'Aliança, Colinas do Sul, Teresina de Goiás, Cavalcante e Alto Paraíso de Goiás, tendo como parte desse último, a Vila de São Jorge, que é entrada para o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros. 
Peguei um ônibus saindo de Goiânia às 20:30 e tive o deslumbre de ver quilômetros e quilômetros de Cerrado à noite. A lua estava cheiona e a visão inesquecível. Cheguei em Alto Paraíso às 3:30 da manhã, sem noção de onde ficaria. Todo esse momento de chegada foi meio mágico. Sem expectativa nenhuma, tudo foi uma surpresa agradável. Logo de cara já arrumei uma varanda pra ficar, até o dia amanhecer. Com mais tempo, achei um hostel da rede Hostelling International numa região meio fora da cidade, mas acabou sendo legal porque me forçou a caminhar tudo e conhecer coisas que não conheceria se ficasse mais perto do centro. Depois de descanso merecido, me larguei pela cidade sem rumo e num desses botecos risca-faca que adoro, conheci um morador chamado Fidélis, que terá uma postagem só pra ele em breve. O clima aqui nessa época do ano não é dos meus preferidos. Chove muito e faz frio pela noite. Mas tive sorte de pegar momentos de sol de rachar também. Estou aqui a 1.600 metros acima do nível do mar, 1.000 a mais que São Paulo, mais ou menos. O Cerrado tem sido um show a parte. A diversidade de vegetação de Cerrado encontrada aqui é bem variada e foi na trilha de 7 horas que fiz no Parque Nacional que vi isso mais de perto. Lugar cheio de canyons, cachoeiras, plantas que nunca tinha visto e várias fotos lindas. Além de Alto Paraíso de Goiás e a Vila de São Jorge, vou conhecer Cavalcante. Logo mais já embarco. Contarei mais coisas desse lugar lindo em futuras postagens.