Wednesday, March 30, 2011

cem anos de lentidão e o elefante branco

essa foto foi tirada em 1911, na inauguração do teatro municipal. os jornais da época descreveram essa noite como "o primeiro grande problema de trânsito". de acordo com registros, havia em são paulo uma frota de 300 carros. sabe quantos foram à ópera de hamlet naquela noite? 100. imagino que na época a cidade nem era tão grande, mas talvez por status, as pessoas foram na inauguração de carro. 
esse pensamento nunca mudou em nossa cidade. ter um carro é subir na escada social. conheço um monte de gente que se aperta pra caramba, não sobra grana mais pra nada, pra garantir a aquisição de um carro. o valor que se dá a isso é grande. ganhar um carro do pai aos 18 anos é uma coisa bonita. o presente que meu pai me deu de casamento foi vender o carro dele pra mim por metade do preço. 
há uma série de protestos em relação ao uso do carro, motoristas que são chamados de monstroristas (apesar que alguns, inclusive amigos, merecem muito esse título) e por aí vai. não acho que é atacando os carros e quem faz uso deles que o problema do trânsito será resolvido. existem inúmeros discursos sobre essa questão. acredito que o problema pode ser resolvido de outras maneiras. a abordagem agressiva só piora, só faz com as pessoas criem aversão ao assunto.

as pessoas deixaram de ter atari porque o master system era melhor. a comparação é simples, mas eficaz. 

tive carro por quase 10 anos. ter um carro é uma questão cultural, passada de pai pra filho. quando estava de carro, nem notava uma bicicleta. não por uma questão de achar que a bicicleta é algo inferior, sempre respeitei os outros pedestres, ciclistas e outros motoristas. mas isso é porque sou assim. eu respeito. eu não consigo nem brigar pra entrar no metrô cheio. inclusive não sobrevivi. minha opção foi começar a trabalhar perto de casa. e olha, tive que traçar um plano, criar estratégias, e batalhar bastante pra conseguir isso.

mas continuei tendo o carro, mesmo trabalhando perto de casa. sei bem o que é ter um carro nessa cidade. os faróis, a lentidão, a dificuldade pra estacionar, o stress. era quase rotineiro ficar preso na ponte aricanduva por quase 1 hora. 2 quando chovia. até 3 já fiquei.

o carro é excelente pra viajar com amigos, família. vejo essa imagem da família feliz num carro desde pequeno na televisão. a questão é que na realidade, isso é uma propaganda enganosa. carro dá um trabalhão gigante. é bem caro manter um carro. você que tem sabe disso. seguro, ipva, combustível, manutenção. vixi, a lista é enorme. fora que se você gosta de beber, vai ter optar. direção ou bebida. ou fazer como eu fazia, e como muitos outros fazem, beber e dirigir.

a vida vem em ondas... uma dessas levou meu carro numa manhã de quarta-feira, há quase 3 anos. havia estacionado o carro nas mediações do metrô vila matilde e quando voltei da paulista, kd? minha cabeça de motorista demorou um tempo pra aceitar uma vida sem carro. e nem tinha dinheiro na época pra comprar outro. com a grana do seguro, fiz outras coisas. 

amigo, você vai, querendo ou não, acabar desistindo de ter um carro. e só continuará querendo ter um se não enxergar outras possibilidades. e mesmo assim, se tiver, vai deixá-lo com mais frequência na garagem. afinal, o carro ainda pode ser útil pra outras coisas. mas pra se locomover na cidade, é melhor adquirir um elefante branco.

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