Tuesday, February 08, 2011

Mindtrigger - Entrevista Revista ROCK UNDERGROUND

Vira e mexe eu acho alguma coisa do Mindtrigger na internet. Pra quem conhece, veja de novo. Pra quem não conhece, eu fazia vocais nessa banda. Aqui vai uma entrevista pra revista ROCK UNDERGROUND, alguns anos atrás.


RU – Como a banda foi formada? 
A primeira versão da banda foi formada por amigos de infância que nunca tinham sequer tocado uns instrumento. A banda se chamava Hobgoblins e se concentrava basicamente em covers. Depois de estabelecer a formação com Sandre (vocal), Sérgio (guitarra), Ricardo (baixo) e Enio (bateria), começamos a nos concentrar em músicas próprias.
Nunca nos preocupamos em nos rotular. Nunca tivemos conversar do tipo "vamos ser uma banda de thrash, de hardcore ou de metal melódico" Simplesmente queríamos ser uma banda.
Ainda como Hobgoblins lançamos uma demo chamada "See Beyond" e fizemos vários show em São Paulo e região.
Enquanto trabalhávamos em novas músicas, vimos que a temática delas não combinava com o nome (aliás, nunca combinou). Em 2007, durante o processo de gravação do nosso 1º EP, resolvemos mudar o nome para MINDTRIGGER.
RU – Fale dos trabalhos lançados. 
Lançamos em Agosto de 2008 nosso 1º EP chamado "Save My Time". O ep conta com 6 músicas que mostram bem a cara da banda, com nossas diversas influências de músicas, desde os anos 60 até bandas mais atuais (tirando o emo, claro - hehehehehe)
O EP foi gravado e mixado no estúdio Diesel em São Paulo, e foi um processo de gravação bem tranqüilo, mas bem inusitado. Pelo fato das agendas dos membros da banda não coincidirem na época, quase nunca nos encontrávamos no estúdio. A bateria foi gravada só com os clicks, sem guias, o baixo só com o som de bateria, e assim por diante. As pessoas do estúdio pareciam achar que a banda estava acabando, que estava todo mundo brigado, pois ninguém se encontrava. Sem contar que como não existiam guias, os técnicos de som ficaram sem entender muito bem o estilo da banda até a gravação dos vocais.
RU – Fale da cena de sua cidade. 
Verdade seja dita, mas São Paulo está uma merda. O público prefere ver bandas covers ruins do que ver bandas de som próprio boas.
Existe todo um movimento de bandas de som próprio contra bandas covers e vice-versa. Mas acontece que existem bandas covers ótimas, como o Children of the Beast (Iron Maiden), o Voz em Fúria (Rage Against the Machine) e o New Jersey (Bon Jovi) que fazem um trabalho muito igual ao da banda original, não tem como desmerecer o trabalho sério de bandas como eles (entre outras). O que nos deixa putos é que a grande maioria são bandas covers ruins, que são pagas pra tocar de uma maneira medíocre, e que o público prefere isso a ver uma boa banda de som próprio (e não falo isso só da gente, tem várias bandas boas por aí como o Ace4Trays, Planobe, Naffta, Command6, Beyond the Grave, Excambau! - a lista é enorme).
E quando tem festivais de som próprio, existe aquela panela ridícula de ser sempre as mesmas bandas, tocando sempre para o mesmo público.
Como se isso não fosse o suficiente, ainda temos promotores de show picaretas, que obrigam as bandas (de som próprio diga-se de passagem) a venderem ingresso pra participar dos festivais.
Para ter o lucro garantido em eventos, esse pseudo-produtores inventaram a tal “cota de ingressos.” Desta maneira, independente de haver público ou não, eles não terão nenhum prejuízo, mesmo que não se esforcem em nada para divulgar o próprio show. Alguns acreditam que divulgar show é mudar a frase do MSN e criar perfis falsos no Orkut para mandar mensagens coloridas...
As bandas e/ou artistas são obrigados a comprar ingressos para, muitas vezes, tocar com aparelhagem e equipamento precários, em lugares sujos, desorganizados, sem segurança, e ainda vendem as bebidas da pior qualidade a preços absurdos (chegando a 300% de lucro no preço de uma lata de cerveja, por exemplo).
Assim, os eventos têm incluído cada vez menos bandas de ótima qualidade musical, dando espaço apenas para bandas que podem pagar para participar.
Enquanto houver bandas aceitando participar desta exploração e público prestigiando este tipo de evento, esta prática existirá. Por isso nós do MINDTRIGGER estamos com a comunidade do orkut "DIGA NÃO À COTA DE INGRESSOS." Tentamos conscientizar bandas e público a boicotar eventos deste tipo.
RU – Fale sobre planos no futuro. 
Além de estarmos a procura de shows e divulgação (e se alguém interessar, empresário e assessoria de show também), estamos compondo músicas novas. Já temos várias idéias e muitas coisas diferentes para um próximo lançamento, e futuramente não queremos lançar mais nada físico, só virtual.
O mundo da música está diferente, e hoje música é um poder público. Todos tem direito a ter acesso a música livre, e isso sempre existiu, afinal, desde a época do vinil pegávamos discos emprestados e gravámos em fita K7, e não se falava em "roubo de música."
Qualquer um pode digitar num site de busca "Monalisa", "Guernica", "Capela Sestina", ou qualquer outra obra de arte e visualizá-las gratuitamente (e não é considerado roubo). As pessoas vão a biblioteca, pegam livros de graça e não é considerado roubo. Porque com música  (que é uma obra de arte) há de ser diferente?
RU – O final é seu! 
Para as bandas: exijam o mínimo de respeito quando forem tocar. Para o público: exijam qualidade dos festivais, independente do tipo de música.
Agradecemos a Rock Underground pelo espaço concedido.

5 comments:

Sérgio A. said...

Sensação estranha. Parece que já faz tantos anos...

sandre quirino said...

engraçado né?

Ricardo Campanille said...

E nem passou muito tempo que o Enio contou na entrevista sobre o processo de gravação e sua particularidade que remetia a uma banda chegando ao fim e não passa muito tempo acabou mesmo.
Pra mim o processo já refletia exaustão oculta em cada um. Nem dá pra explicar escrevendo aqui.
Mas vivemos o que tínhamos que viver juntos enquanto banda e fizemos músicas ótimas, embora poucas pelo tempo de estrada.
Toda história tem um fim.
E todo esse tempo passou e na minha cabeça nunca saiu a vontade de começar outras histórias, mas a vida das pessoas muda, muitas vezes imaginei nós quatro em outro projeto, mas embora eu tenha muita vontade, acho improvável ter novas páginas. É uma pena.

Sérgio A. said...

Everything that has a beginning has an end...

Ivan Sanches said...

É