floripa - outubro de 2012 |
- seguimos?
- não sei. será que é perigoso?
- não sei. vamos farejando, tateando, de orelhas levantadas.
já disse aqui que uma vez olhei para os olhos de minha avó e vi olhos de menina. senti um misto de pena e compaixão. percebi depois que estava sentindo era pena de mim mesmo. no fundo, somos seres egoístas e muitas vezes bem mesquinhos. usamos o outro. o outro nos traz segurança. vivemos no rebanho. o viver no rebanho nos traz segurança. vivemos num paradoxo: segurança x liberdade. almejamos a liberdade, mas a liberdade pode ser caos. assim, caminhamos para o polo da segurança. pode-se viver uma vida inteira de ilusões. a busca pela segurança é uma grande ilusão. não é de se espantar o acúmulo de frustrações e medo no decorrer da vida. quando olhei para os olhos de minha avó e vi olhos de menina, senti pena de mim mesmo. medo de ser menino quase no fim na vida. esse sentimento de auto-compaixão é patético. e uma vez identificado - de verdade - cai como uma folha de árvore no outono.
libertar-se psicologicamente dessas amarras é ser mais independente. essa independência é solitária. quando se é sozinho, sua relação com o outro muda. as relações passam a ser mais sinceras e o mero coleguismo que se tem com o outro perde lugar para a verdadeira amizade. o outro é necessário, não somos uma ilha. uma verdadeira relação de amizade nos leva para um outro patamar. acreditar na mudança do coletivo pra se ter uma sociedade melhor é acreditar numa ilusão. o coletivo pressupõe autoridade, obediência, ajustamento às regras estabelecidas. isso é caminhar para o polo da segurança. caminhar para o polo da liberdade é apostar no indivíduo. somos essencialmente sozinhos. e sozinhos morreremos. a morte é enfrentada pelo indíviduo. assim também tem que ser a vida enfrentada. viver como indivíduo, aceitar que o outro é um indívíduo completamente diferente é ser livre. a liberdade pode ser caos. mas o que é caos? não pode ser pior do que esse buraco que é a busca contante por segurança. viver sem script, não ter medo de errar, dar boas-vindas ao desconhecido. isso é viver.