mais uma do baú. uma revista bizz da época que a moeda ainda era CR$. essa edição fala sobre o lollapalooza de 93, quando o lolla ainda era um travelling festival por terras norte-americanas. na época dois palcos - main stage e side stage. no segundo, várias bandas desconhecidas (pelo menos pra mim) que nem vou citar. o tool (umas das minhas bandas favoritas) foi uma delas. já no main stage o lineup foi o seguinte e nessa ordem: rage against the machine, babes in toyland, front 242, arrested development, fishbone, dinosaur jr., alice in chains e primus. a matéria é longa e o moço da revista que foi até chicago conferir o festival traçou várias comparações com o do ano anterior, o de 92. também ensaiou uma resposta à pergunta "o big business devorou o submundo, ou o underground que virou um grande negócio?", mas não conseguiu responder. enfim, vou reproduzir aqui um trecho que ele comenta sobre as bandas e suas performances e você fica com um pouco de história desse festival que começou em 91.
Por André Barcinski.
o primeiro a subir no palco foi rage against the machine. São quatro caras de los angeles, metidos a ativistas políticos. nada contra, é de se admirar pessoas que levam política a sério. o problema é quando tentam dar lição de moral, como se todas as pessoas que não estão nem aí para o problema dos desdentados do sudão fossem uns idiotas. se o ratm se limitasse a detonar sua ótima mistura de heavy, industrialismo e rap, teria sido uma experiência memorável. mas não, a banda tem que mostrar a que veio, afinal na platéia estão os lindberghs farias da vida. "vamos nos unir e acabar com a miséria! vamos tirar nossas tropas da somália!", gritava o vocalista zach de la rocha, para uma platéia que achava que somália era uma doença contagiosa.
como esperado, o panfletarismo deu certo e a galera delirou. como o nine inch nails e henry rollins, em 91, e o ministry, no ano passado, o rage against the machine foi o campeão do ano.
mas só para o resto do público. se eu tivesse que votar, seria babes in toyland na cabeça. o trio de meninas sofreu com o tamanho babilônico do palco, mas deu o recado com raiva. nota oito.
depois foi a vez da palhaçada do século, o front 242. até que eu respeitava os caras. nunca deu para curtir muito o som, mas o visual parecia cool, bem típico de cidades industrializadas da europa. mas deu uma louca nas figuras e eles subiram ao palco parecendo o village people, com uns shortinhos de chacrete enfiados no okotô e presença de palco aeróbica. me lembrou o verão vivo do luciano do valle, com um monte de musculosos dançando no palco e milhares de seres estupefatos em volta. pelo menos foi engraçado.
a banda seguinte, arrested development, agradou. o vocalista speech, entre um e outro discurso sobre união das raças e amor entre irmãos, soltou os hits tennessee e people everyday e a galera deixou cair. o bole-bole, o telecoteco e o balacobaco tomaram conta do lugar.
a alegria contagiante do show do arrested não se repetiu durante a apresentação do fishbone. apesar de sua música suingada, ideal para levantar a massa, o som embolado atrapalhou, e ninguém se ligou muito. o grupo bem que tentou incentivar, dando uns stage-dives acrobáticos, mas não adiantou.
agora, chato mesmo foi o dinosaur jr. a banda tem uma presença de palco digna do garoto da bolha de plástico e não fala um oi para a platéia. em um lugar menor tudo bem, mas no lollapalooza foi um desastre.
o alice in chains foi o oposto do dinosaur jr.: os caras estão acostumados a tocar em estádios e sabem comandar a massa. tocaram com competência e deixaram os metaleiros em êxtase.
o final foi um cubo de gelo: o primus, inexplicavelmente escalado para fechar o festival (dizem que o alice in chains é que deveria fechar, mas não quis), fez um show que foi uma exibição inútil de virtuosismo. tudo bem, o baixista les claypool é realmente o rei da cocada preta, toca um instrumento de 45 cordas com a velocidade do speed racer, é uma brasa. mas lugar de fenômeno é no "acredite se quiser". no palco, eles tem que ser energéticos, tocar com vontade, sacudir o povão. e não fizeram nada disso. ainda tiveram a petulância de tocar um cover do ministry, "thieves", que deixou o baixista paul barker (por coincidência minha carona de volta à cidade) revoltado. ele ficou tão possesso que quis sair antes do bis. acho que não perdemos muito.
zzzzzz.