Trecho do livro A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera. Está fora de contexto mas não deixa de ser divertido mesmo assim.
Quinta Parte: A leveza e o peso. Capítulo 10.
Os caçadores de mulheres podem facilmente ser divididos em duas categorias. Uns procuram em todas elas sua própria idéia de mulher, como lhes aparece em sonho, subjetiva e sempre a mesma. Outros são levados pelo desejo de tomar posse da infinita diversidade do mundo feminino objetivo.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão lírica: procuram a si próprios nas mulheres, procuram o seu ideal e são sempre e continuamente frustrados, porque, como sabemos, é impossível encontrar o que é ideal. Como a frustração que os leva de mulher em mulher dá à inconstância deles uma espécie de desculpa melodramática, muitas mulheres sentimentais acham comovente essa poligamia convicta.
A outra obsessão é uma obsessão épica, e as mulheres não vêem nisso nada de comovente: como o homem não procura nelas um ideal subjetivo, tudo lhe interessa e nada pode decepcioná-lo. Essa incapacidade para a decepção tem qualquer coisa de escandaloso. Aos olhos do mundo, a obesessão do épico não pode ser perdoada (porque não é resgatada pela decepção).
Thursday, April 29, 2010
Tuesday, April 27, 2010
Milan Kundera - Risíveis Amores
Escritor tcheco nascido em 1929. Sua obra mais famosa é A Insustentável Leveza do Ser, escrito em 83 e adaptado para o cinema em 88.
Risíveis Amores - o livro que acabei de ler - foi escrito entre 60 e 68. Top 5, ou até mesmo 3. São 7 contos com personagens bem interessantes, em especial o cínico e mulherengo Dr. Havel.
Aqui vai o orelha do livro:
O equívoco, seja ele de situações ou de sentimentos, é o que torna risíveis os amores descritos neste livro de contos de Milan Kundera. Há nestas histórias mal-entendidos capazes de provocar circunstâncias novas de relacionamento que podem ser reveladoras ou assustadoras: amantes se vêem de repente como estranhos, e seu amor muda de caráter; invertem-se as colocações no relacionamento amoroso, dando aos amantes uma sensação de irrealidade na qual já não distinguem mais os contornos de suas emoções, por mais que as procurem analisar.
Esses equívocos resultam de uma incapacidade fundamental que têm os personagens de Kundera não só de se comunicarem entre si, como também de se comunicarem consigo mesmos. Eles estão sempre sós num mundo - interior ou exterior - no qual os outros são meras sombras. Os objetos de seus amores são exatamente isso, objetos. Falta a esses amantes, jovens ou velhos, idealistas ou cínicos, a identificação que transforma o amador na coisa amada: daí a sua vulnerabilidade ante situações novas criadas pelos equívocos. Não conhecem realmente o outro e, quando o vêem sob um ângulo levemente diferente do habitual, perdem com ele o pouco contato que tinham.
Por isso esses amores são risíveis, por estarem mais próximos da farsa do que do sublime. "Ah, senhoras e senhores", exclama um dos personagens, "é triste a vida quando não se pode levar nada e ninguém a sério". Ou seja, são amores trágicos porque negam a possibilidade de comunicação autêntica entre os que se amam - o que equivale ao desaparecimento da própria razão de viver.
Risíveis Amores - o livro que acabei de ler - foi escrito entre 60 e 68. Top 5, ou até mesmo 3. São 7 contos com personagens bem interessantes, em especial o cínico e mulherengo Dr. Havel.
Aqui vai o orelha do livro:
O equívoco, seja ele de situações ou de sentimentos, é o que torna risíveis os amores descritos neste livro de contos de Milan Kundera. Há nestas histórias mal-entendidos capazes de provocar circunstâncias novas de relacionamento que podem ser reveladoras ou assustadoras: amantes se vêem de repente como estranhos, e seu amor muda de caráter; invertem-se as colocações no relacionamento amoroso, dando aos amantes uma sensação de irrealidade na qual já não distinguem mais os contornos de suas emoções, por mais que as procurem analisar.
Esses equívocos resultam de uma incapacidade fundamental que têm os personagens de Kundera não só de se comunicarem entre si, como também de se comunicarem consigo mesmos. Eles estão sempre sós num mundo - interior ou exterior - no qual os outros são meras sombras. Os objetos de seus amores são exatamente isso, objetos. Falta a esses amantes, jovens ou velhos, idealistas ou cínicos, a identificação que transforma o amador na coisa amada: daí a sua vulnerabilidade ante situações novas criadas pelos equívocos. Não conhecem realmente o outro e, quando o vêem sob um ângulo levemente diferente do habitual, perdem com ele o pouco contato que tinham.
Por isso esses amores são risíveis, por estarem mais próximos da farsa do que do sublime. "Ah, senhoras e senhores", exclama um dos personagens, "é triste a vida quando não se pode levar nada e ninguém a sério". Ou seja, são amores trágicos porque negam a possibilidade de comunicação autêntica entre os que se amam - o que equivale ao desaparecimento da própria razão de viver.
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